Madrugada
de segunda-feira, 26 de outubro, quinquagésimo segundo dia de
resistência. Por volta das 4:20 da manhã, cerca de 60 capangas
contratados e guarda municipais armados arrebentam o cadeado do portão
dos fundos do canteiro de obras do BRT e invadem a ocupação na avenida
Maria Quitéria, aterrorizando as e os militantes que dormiam no local,
nos arrastando de dentro das barracas, quebrando nossos pertences e nos
imobilizando. Na sequência, após revistas violentas, montam cercos de
guardas armados nas duas entradas do canteiro de obras. Tudo sem nenhum
mandado de reintegração de posse ou qualquer tipo de ordem judicial. O
prefeito, José Ronaldo de Carvalho, do alto de sua arrogância e
prepotência, resolveu governar Feira de Santana através da barbárie.
A reprodução de um
acionar político típico da Ditadura militar-empresarial que torturou,
perseguiu e assassinou milhares de pessoas no Brasil não é um acaso,
José Ronaldo é um político formado no ARENA, partido oficial da
Ditadura, que se utiliza do mesmo modus operandi, a perseguição
política, a truculência, o poder paternalista, as “grandes obras”, a
modernização conservadora, o falso discurso de progresso.
Nesse processo, de
governar a partir da barbárie e do fascismo, José Ronaldo tem usado a
guarda municipal como uma milícia armada vinculada aos seus interesses e
ao seu projeto de poder, que juntamente com capangas contratados
através de empresas terceirizadas, tem imposto o seu “choque de ordem”,
foi assim com a invasão e desocupação ilegal das obras do BRT e seus
“túneis”, na repressão covarde aos trabalhadores e trabalhadoras
ambulantes e é o que se desenha para a imposição do shopping no Centro de Abastecimento.
Enquanto segue dando
sequência aos seus projetos que fazem de Feira de Santana uma cidade
cada vez mais excludente e segregada sócio-racialmente, governando para a
elite racista, seu grupo político, o setor do capital e as diversas
máfias que sustentam seu governo, José Ronaldo esconde os vários
processos em que está envolvido, fraudes e crimes de sua gestão, como o
recente escândalo da SMT, faz da Câmara de Vereadores um tipo de
“casinha de cachorros” e conta ainda com a conivência e omissão das
várias instâncias da justiça burguesa e dos governos federal e estadual.
Romper o cerco da
ditadura de José Ronaldo é uma tarefa urgente e fundamental, que passa
por fora das urnas, da farsa eleitoral e dos interesses de uma oposição
igualmente oportunista, deve partir do fortalecimento das organizações
populares, do empoderamento através dos instrumentos de auto-organização
nas periferias, favelas, locais de trabalho e estudo e do controle
territorial, é necessário criar um povo forte e protagonista, que seja
capaz de enfrentar e vencer o poder.
A luta combativa
contra o BRT, os cinquenta e dois dias de resistência popular e
autônoma, o protagonismo da juventude pobre e periférica, a ação direta
como método fundamental, a dinâmica permanente de formação e cultura, a
afirmação intransigente de independência frente aos partidos políticos e
oportunistas de toda espécie, o rechaço contra todas as tentativas de
tutelar nossa ocupação, é o exemplo que confirma a certeza de nosso
caminho e vocação. Somos a Feira de Santana rebelde e libertária. A
resistência payayá ao colonizador branco, a rebelião de Lucas contra a
escravidão, a ousadia de Maria Quitéria na guerra de independência, a
rebeldia de George Américo nas ocupações de terra, a coragem de Luís
Antônio Santana Bárbara contra a Ditadura.